quarta-feira, 11 de abril de 2012

Te digo o que escrevo e me dizes quem sou? Te digo o que leio e me dizes quem és?

Eu já compreendi a minha vida, e em última instância a mim mesma, de 
várias maneiras e sob diversos aspectos. Já me busquei na história, me 
procurei na condição de ser humano e me desintegrei para compor um som 
qualquer com o corpo. 
Hoje, exatamente hoje, me achei de um jeito que nunca havia encontrado. 
Cuidadosamente tecida entre tantas palavras, minhas ou emprestadas, 
escritas ou faladas, vou me escrevendo de maneira nunca antes 
experimentada. 
Já não posso mais me saber sem escrever. Nem sem ler. 
Eu leio muito e de diversas maneiras. Leio o que é comum, mas que ao se 
mostrar aos meus olhos passa a ser somente meu. Eu leio escritos e 
implícitos. Palavras e imagens. Expressões e interações. Junções 
harmoniosas de letras que sozinhas não me permitiriam ler e reler os 
caminhos, os universos e até mesmo as meras informações. Embora eu não 
leia nas linhas das mãos toda a vida que ainda está por vir eu também já li 
com elas. 
É na escrita que eu me escapo. 
No manejo das palavras nem sempre encontro a precisão delicada que 
procuro, nas atitudes escrevo com marcas uma Thais completamente 
vulnerável à leitura alheia. Há um outro, muitos outros... Assim como não há 
leitura sem escrita eu também não me pareço inteira sem alguém. 
Daí eu escrevo e em uma espécie de amarração de fios, de letras, vejo nascer 
vagarosamente, deitada sobre a folha do papel uma outra que eu 
desconhecia e diante dela me ponho a ler novamente. 
E no recomeço sem fim há uma espécie de “acontescência” de mim. Um 
encontro indizível e inevitável que se dá no tempo da espera que repousa 
lenta e devagar. Ou seria a divagar? 
Thais Abrahão 
Estudante do curso de Pedagogia, do Instituto Superior de Educação Vera Cruz, em resposta a 
uma discussão sobre autoria ocorrida em aula da disciplina Leitura e Escrita I: Como se lê, como 
se escreve, ministrada por esta pesquisadora, em março de 2009. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Oh não! Lição de casa!

Para muitos alunos a lição de casa é uma tortura. Para muitos pais, também. Se é assim, por que as escolas insistem em passar tarefas a seus alunos? Por que fazer? Não é melhor que as crianças aproveitem o resto dia fora da escola com outras tarefas, descansem ou se divirtam?


Vamos às respostas:


A aprendizagem, do ponto de vista neurológico, tem algumas fases bem definidas. A primeira delas é a aula em si, o momento da construção do conhecimento pelo aluno. Nessa fase os conceitos são armazenados na memória de curto prazo. Onde se armazenam saberes que se esquece em pouco tempo, em poucas horas.


A segunda fase ocorre justamente durante a lição de casa! É nesse momento que o cérebro leva as informações que estão na memória de curto prazo para a memória de longo prazo, ou melhor, para a memória “permanente”. Esse processo só acontece quando o cérebro percebe a necessidade de usar novamente aquela informação compreendida em pouco tempo.


Em terceiro lugar vem a fixação, que ocorre durante o sono profundo. Nesse período o cérebro recebe a liberação dos hormônios do crescimento, a leptina, do cortisol, etc. Toda essa química ativa a fixação das informações que estão na memória de longo prazo impedindo-as de serem esquecidas. Pelo menos não enquanto forem necessárias. Essa fixação ocorre, portanto, durante um período do sono de qualidade, do sono restaurador. Dormir bem também é importantíssimo para aprender.


Se a criança, ou jovem, não dorme adequadamente, acaba não tendo todas as horas de que seu corpo necessita. Ela não grava, não fixa, não retém, não memoriza o que anda aprendendo na escola ou no seu dia-a-dia. E no dia seguinte sequer consegue manter a atenção em qualquer assunto.


Além disso, se não faz lição ou não revisa o que foi aprendido naquele dia, não haverá nada na memória de longo prazo a ser fixado. E as informações vão se apagando gradativamente em sua memória.


Por isso valem aí algumas dicas:




1. Garanta o momento da lição, mas não faça, e nem permita que alguém faça a lição pelo seu filho. Desligue a TV, peça que as outras crianças brinquem em outro espaço, enfim, garanta que o momento da lição seja agradável e realmente aconteça. Essa deve ser a ajuda.


2. Se todos os dias houver o momento da lição, solidificará o hábito e logo não será mais necessário exigir esse comportamento, pois seu filho o fora sozinho.


3. Não é nada fácil garantir esse espaço e criar o hábito de estudar, mas é fundamental para que seu filho possa desenvolver uma outra habilidade além da fixação do que se aprendeu, é a autonomia na aprendizagem. O verdadeiro objetivo do processo de ensino.



Texto de MARCOS MEIER (mestre em Educação, psicólogo, escritor e palestrante), adaptado por Geórgia Kelly Souza (graduada em Letras e pós-graduada em Didática de Ensino da Língua Portuguesa, consultora de ensino e docente no Colégio Santa Cruz).